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19 de Abril de 2024
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    O verdadeiro PIB brasileiro

    Temos um dólar ridiculamente baixo, que não contempla a realidade. Isso porque com a mais alta taxa de juros do mundo, a entrada de moeda estrangeira no País é enorme.

    Temos visto todo mundo satisfeito com o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, aqui e no exterior: cerca de US$ 2 trilhões em 2010, com renda per capita de cerca de US$ 10 mil. E maior satisfação ainda por sermos a sétima economia do mundo.

    Seriam números para se orgulhar, sem dúvida alguma conquanto fossem reais.

    O problema é que não são, e as pessoas parecem não perceber isso. Quanto ao governo, certamente deve saber, mas não lhe interessa a realidade. A população em geral não sabe até porque é mal informada pelo governo e pela imprensa e não tem conhecimentos econômicos mínimos para entender, interpretar, buscar, nem está interessada. O mais estranho são os economistas e a imprensa em geral escamotearem os fatos e ficarem com as fotos.

    Os números estão disponíveis. Não enxerga quem não quer. O Brasil não é a sétima economia do mundo, assim como a China não é a segunda o que explicaremos na sequência. E ninguém pode dizer que sabe qual o verdadeiro PIB brasileiro: o Brasil não tem PIB real pelo menos desde o advento do Plano Real. Na época, se nossa memória não nos trair, o PIB brasileiro era de uns US$ 450 bilhões, com renda per capita de menos de US$ 3 mil. Com o Plano, sem mais nem menos, sem crescer algo, passamos a US$ 800 bilhões, levando o brasileiro a crer que o País estava bem e com renda per capita de mais de US$ 5 mil. Seria um bom PIB e uma boa renda per capita, se fossem reais e não mágica.

    E a mágica foi simples: apenas permitir que a taxa do dólar caísse a ridículos R$ 0,83 por dólar. Como o PIB de cada país é considerado em dólares para efeito e comparação internacional, qualquer manipulação na taxa muda consideravelmente o PIB.

    E foi o que ocorreu. Isso é fácil de mostrar: basta buscar os números. E, também, perceber que a década de 90 foi a pior da economia brasileira, pelo menos do século 20. Cresceu 2,1% ao ano na média, contra 2,7% ao ano da chamada década perdida, a de 80.

    E assim foi por todo o Plano Real, com PIBs irreais, em contraste com o nome da moeda. Na eleição de 2002 ocorreu o inverso, e o dólar explodiu, atingindo R$ 3,99 por dólar. Com este nível, claro, caiu drasticamente o PIB.

    Hoje acontece é a mesma coisa. Temos um dólar ridiculamente baixo, que não contempla a realidade.

    E é simples entender porque é baixo: com a mais alta taxa de juros do mundo, a entrada de moeda estrangeira no País é extraordinária. E o excesso de oferta provoca a manutenção da moeda em seu atual patamar, de cerca de R$ 1,60. Matematicamente, bem abaixo daquele valor de R$ 0,83, considerando que a inflação do Real, até fevereiro de 2011, pelo IPCA do IBGE, foi de 178,9%.

    E tomam-se apenas medidas econômicas paliativas e inúteis, destruindo o País, em vez de ir ao cerne do problema, a taxa de juros. Que não mantém conexão ou contato de qualquer grau com a realidade brasileira ou mundial.

    Hoje temos um PIB irreal, pois irreal é o valor do dólar. No valor real, o PIB seria bem menor e sem mudar nada na vida do brasileiro. Também não temos como ser a sétima economia mundial. Temos um PIB de US$ 2 trilhões, apenas, em face de uma população de quase 200 milhões de almas produzindo. A Coreia e a Espanha, com PIB menor, estão várias posições abaixo do Brasil, como sendo economias menores. Mas, em realidade, são muito maiores, com uma renda per capita de US$ 29,7 mil e US$ 29,6 mil, respectivamente (25ª e 26ª posição no mundo em 2010).

    O Brasil é a 71º renda per capital mundial. Nossa posição é 7ª ou 71ª? Quem tem a economia mais forte? Que respondam os iluminados que escondem a trágica realidade brasileira. Ninguém quer diminuir ninguém. Apenas colocar as coisas em seus devidos lugares e entender que temos de trabalhar muito para atingir uma posição de destaque real, e não fantasiosa.

    A China, a propósito, tem renda per capita de cerca de metade do Brasil e está em 93º posição. O Japão tem renda de US$ 33,8 mil, em 24º lugar. Aliás, virou moda considerar a renda per capita pelo PPC - Poder de Paridade de Compra. Mas no nosso entender, o que vale numa economia é a produção real, realizada com os recursos disponíveis e à disposição da população. Não aquela potencial, um verdadeiro sexo dos anjos.

    Samir Keedi é professor, autor de vários livros em comércio exterior, transporte e logística e membro da CCI-Paris na revisão do Incoterms 2010.

    samir@aduaneiras.com.br

    * Texto publicado originalmente no jornal Diário do Comércio, da ACSP, em 14/04/2011.

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/o-verdadeiro-pib-brasileiro/2647657

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